sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Cotas: sim!

Ítalo Lopes

Aprioristicamente, o sistema de cotas para estudantes da rede pública em Universidades Federais e Estaduais do Brasil, instituído pelo Governo Lula [PT], gerou uma enorme polêmica que se alastra até os dias atuais, geralmente encabeçados pela classe mais afetada de todo este processo: ‘A classe média’, que a partir de agora, ver seus estudantes correrem o grande risco de não ingressarem na Universidade pública devido às “vantagens” oferecidas pelo Governo aos estudantes menos privilegiados na sociedade.

Além disso, recentemente, Nice Lobão [DEM-MA], criou um projeto no qual já foi aprovado pela Câmara dos Deputados, visando aprimorar o sistema de cotas e oferecer 50% das vagas pros estudantes secundaristas provenientes da rede pública de ensino, voltando a se tornar, obviamente, alvo de muita polêmica na sociedade brasileira. A proposta foi aprovada na quinta-feira (20/11) pela Câmara dos Deputados. Agora, precisa passar pelo crivo do Senado. O projeto de lei recebeu emenda que destina metade dessas vagas (25% do total) para estudantes pertencentes a famílias com renda até R$ 622,50 (um salário mínimo e meio). Os outros 25% serão para negros, pardos e indígenas.

Desses 25%, o número de vagas para cada etnia será divido conforme a sua representação no estado em que está localizada a instituição, ou seja, se a porcentagem de indígena for a maior, esse grupo terá o numero de vagas maior. Os dados serão baseados no último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Argumentando como um estudante cotista, essa iniciativa realmente dota de grande aceitação entre nós, que agora estamos mais motivados do que nunca para dar continuidade as nossas aspirações acadêmicas, pois a chance de ter acesso gratuito ao ensino superior se torna mais real, disponibilizando um combustível a mais no árduo processo de formação acadêmica da grande maioria dos estudantes, que lamentavelmente, não avançam muito neste universo, por não ter uma estrutura digna que suporte isto.

Ademais, existem muitas pessoas à margem da realidade, que veementemente proferem em seus discursos a inviabilidade deste processo, que nada mais é do que uma ameaça à qualidade do ensino universitário público do Brasil, assim como seu possível sucateamento. Oras, pesquisas demonstram que estudantes da rede pública não apresentam desempenho tão inferior aos ilustres estudantes da rede privada, como erroneamente muitos pensam. Além disso, se um mero ‘incentivo’ oferecido pela UFPE [aumento de 10% na média final do candidato] estimula muitos estudantes, imaginem a reserva de 50% das vagas.

Muito podem achar um absurdo tal projeto, achando que esta é uma maneira de ridicularizar o sistema como um todo, porém se formos fazer uma proporção entre os estudantes da rede pública e da rede privada, percebemos que 50% ainda é pouco, quando partimos do pressuposto da igualdade, pois não correspondem a real demanda dos estudantes de colégios públicos. Obviamente, sabemos que este projeto está muito aquém do ideal, até porque lutamos, pressionando as autoridades, para que isto não seja necessário, almejando a extinção do vestibular e a garantia de uma vaga para todo e qualquer aluno que esteja interessado em seguir os estudos no mundo acadêmico, com um simultâneo investimento na rede básica de ensino, na qual se encontra vergonhosos e lamentáveis dados estatísticos, pois nada mais é do que a fonte real de todo o problema na Educação.

Em suma, exponho meu grande apoio ao sistema de cotas para estudantes da rede pública de ensino que apresentem uma baixa renda familiar, pois claramente, através da elitização dos centros de excelência como Colégio de Aplicação/UFPE, Escola do Recife/UPE entre tantos outros, nos faz concluir que ser estudante de escola pública não está necessariamente ligado ao fato de ser ‘pobre’. Vamos levantar essa bandeira para o sistema de cotas e permitir que a sociedade não perpetue essa reprodução injusta, no qual ‘pobre’ não é digno de integrar os círculos acadêmicos nobres, tais como Direito e Medicina. Viva a igualdade! Viva ao Movimento Faculdade Interativa! Viva!

Ítalo Lopes é estudante da Faculdade de Direito do Recife (UFPE) e membro do Movimento Faculdade Interativa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ítalo, muito bom! Nota 10!

Parabéns pelo texto! Textos como o de Evandro, Marcello e (especialmente) o seu permitem que o nosso grupo avance no debate sobre as cotas.

Abraços fraternos...

Anônimo disse...

Ah, muito obrigado Ari!

:D