
Com raras exceções, os cursos de Nutrição se dedicam às pesquisas de caráter e interesse puramente acadêmico, ou ensinar aos seus alunos como emagrecer gordos ricos, no lugar de como engordar pobres magros; os de Arquitetura, a fazer casas de luxo para poucos, no lugar de habitações confortáveis para todos; os da Odontologia, a corrigir defeitos na formação dentária dos que têm dentes, no lugar de evitar que os pobres percam os seus; os de Economia, sobretudo, a textos sobre como aumentar a riqueza, no lugar de buscar meios de mobilização dos recursos nacionais para eliminar os problemas da pobreza.
A luta contra a pobreza exige um apoio à universidade e ao mesmo tempo uma reorientação de grande parte do esforço desta. Para tanto, o governo deve vincular as transferências de recursos públicos às universidades brasileiras ao envolvimento de seus professores, alunos e servidores nos programas de erradicação da pobreza:
a) Na formação e reciclagem dos professores do ensino primário e secundário, a um custo de R$ 27 bilhões ou 2,9% do PIB ou 9% da arrecadação que já foi considerado no programa de educação básica para crianças;
b) No cumprimento de um compromisso da erradicação do analfabetismo de adultos, no prazo de quatro anos, em todo o território nacional, graças à mobilização dos alunos, professores, servidores, com financiamento adicional que será considerado mais adiante, para fins de custos, no programa de alfabetização de adultos, ao custo de R$ 800 milhões ou 0,3% da arrecadação;
c) Reorganização de alguns de seus cursos de maneira a participarem diretamente do entendimento e formulação das técnicas necessárias para erradicar a pobreza, a saber:
- Na Economia, é preciso orientar o estudo do crescimento e da riqueza para o estudo da redução da pobreza, o respeito ecológico, a criação de emprego, a valorização dos aspectos sociais, como educação e saúde;
- Na Saúde, é preciso orientar os alunos nos setores de saúde pública, para programas como Saúde em Casa ou Saúde da Família;
- Na Arquitetura, devem-se concentrar esforços nas técnicas de construções populares, confortáveis e construídas pela própria população interessada;
- Na Nutrição, o estudo deve ser mais para descobrir como eliminar a desnutrição dos pobres do que como diminuir a obesidade dos ricos;
- Os cursos de Ciências devem dar mais importância às licenciaturas;
- As áreas da Pedagogia devem adquirir uma especial nobreza".
(BUARQUE, Cristóvam. A Segunda Abolição. 1. Ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1999. 87p).
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